Todos os organismos vivos, animais, plantas e até bactérias, apresentam um comportamento e fisiologia ao longo das 24 horas diárias, designado como ritmo circadiano.

O ritmo circadiano é controlado através dos relógios biológicos existentes nos órgãos periféricos do organismo e grande parte deles, são sintonizados pelo designado, master clock, existente no hipotálamo do cérebro.

Estes relógios biológicos podem ser influenciados pela luz, sobretudo pela luz branca ou azul de menor comprimento de onda e pela comida.

A revolução industrial introduziu o trabalho por turnos na organização do trabalho, incluindo o noturno, com possíveis repercussões sobre a saúde.

– No trabalho noturno, a exposição à luz artificial, pode provocar disrupção dos ritmos circadianos.

Esta desregulação do ritmo dia/noite, pode dar origem a alterações do sono, de vários ritmos hormonais, dos sistemas imunitário, cardiovascular, gastrointestinal, entre outros.

– O período do dia e da noite é variável ao longo do ano e do ponto de vista do bem-estar e da saúde, é importante que quando as noites são mais longas, os períodos de descanso e de sono sejam também maiores.

Além do ritmo circadiano, que se repete cada 24 horas, existem também ritmos que se repetem ao longo do ano, chamados ritmos circanuais. São exemplo destes, a duração do dia e da noite ao longo do ano, a migração das aves e a alteração dos ciclos reprodutivos.

O trabalho noturno, é considerado como potencial cancerígeno para o cancro da mama pela Organização Mundial da Saúde/ IARC (grupo 2B) desde 2009 e foi divulgado em Portugal pela própria ACT.

A evicção, ou privação do sono durante a noite, pode desencadear crises de epilepsia ou crises hipertensivas, exemplos bem conhecidos dos médicos do trabalho, além de poder ser prejudicial noutras doenças.

A suscetibilidade individual, também é importante, há pessoas que toleram melhor as noites que outras; as que gostam de se deitar mais tarde, chamadas de “eveningness” adaptam-se normalmente melhor ao trabalho durante a noite, do que as que gostam de se levantar cedo, chamadas de “morningness” e que têm maior dificuldade em realizar trabalho noturno.

A idade, também é um fator de suscetibilidade individual importante; a secreção da hormona do sono, melatonina, diminui com a idade, daí as pessoas mais velhas tolerarem menos o trabalho durante a noite.

Por este motivo, considera-se que os trabalhadores com idade mais avançada e com pior adaptação ao trabalho noturno, deveriam beneficiar de medidas especificas de proteção.

A ICOH, a organização internacional da Saúde Ocupacional, recomenda que um trabalhador, não efetue, mais de 4 noites por mês (idealmente!); que ao fim de 20 anos de trabalho noturno seja dispensado de o fazer; de em determinadas situações de doença, como as atrás referidas, os trabalhadores possam ser aconselhados a não realizar trabalho noturno.

Quem trabalha em turnos rotativos, incluindo o noturno, quando termina o trabalho deve ir dormir, a fim de manter o seu ritmo circadiano, tão fisiológico quanto possível.

Os turnos rotativos incluindo o noturno, devem rodar o mais rapidamente possível, no sentido, manhã, tarde, noite, seguida da folga. Rodando os turnos diariamente minimiza-se a disrupção do ritmo circadiano.

A exposição à luz artificial durante a noite, também é prejudicial para os hábitos pessoais. As pessoas que gostam de ficar a pé até tarde, expostas a luz branca e de grande intensidade também estão a perturbar a sua saúde.

Aconselha-se que durante a noite, as cores das luzes (lâmpadas) sejam mais amareladas/alaranjadas e de menor intensidade, para não suprimirem a produção da melatonina, a hormona do sono

Maria João Manzano, MD, PhD
Diretora Clínica da Ecosaúde