Os acidentes de trabalho não são uma fatalidade, eles podem-se prevenir e a análise das causas que os determinaram, bem como o colocar em prática programas de ação de prevenção, são fundamentais para que não se voltem a repetir.

Os trabalhadores particularmente mais vulneráveis, como sejam os jovens, os recentemente admitidos e os temporários, devem ser alvo de ações especificas a eles dirigidas, sendo conhecido que nestes, os acidentes ocorrem mais frequentemente e com maior gravidade.

O trabalho com exposição a temperaturas elevadas, ao calor, pode estar na origem de efeitos adversos sobre a saúde.

Os principais efeitos do calor sobre a saúde podem ser graves, tais como as cãibras, a desidratação e a exaustão. O efeito mais grave é a insolação que pode causar a morte.
A fim de se proteger do calor, a pessoa pode modificar o seu comportamento: evitar o calor, adaptar a sua alimentação e beber mais água.

O nosso organismo dispõe de mecanismos fisiológicos, ditos de termorregulação, que permitem a dissipação do calor: transpiração/sudação e aumento do débito sanguíneo ao nível da pele (vasodilatação dos vasos cutâneos).

Além disso, sob o efeito de exposições prolongadas ao calor, o organismo alcança uma melhor tolerância ao calor, chamado de “aclimatização”. A transpiração torna-se mais eficaz, o risco de desidratação diminui, a exigência cardiovascular baixa. O individuo climatizado ao calor tem uma redução da temperatura central e da frequência cardíaca, a sudação intervém mais cedo. A climatização geralmente é obtida após 8 a 12 dias, no entanto, ela é transitória e desaparece totalmente após 8 dias de cessação da exposição ao calor.

Se a temperatura é elevada e a humidade também, os mecanismos de termorregulação perdem eficácia e podem ser ultrapassados. O organismo pode correr graves riscos.

TRABALHO COM EXPOSIÇÃO AO CALOR E SAÚDE

Os riscos principais são a insolação e a desidratação.
O calor pode igualmente agir como desencadeante ou fator agravante de patologias pré-existentes, essencialmente cardiovasculares, renais, endócrinas (diabetes, …). Por outro lado, alguns tratamentos podem influenciar os mecanismos de termorregulação.

Podem existir efeitos sobre a saúde por exposição crónica ao calor, sendo exemplo disso casos de insuficiência renal, relacionados com o stress térmico e trabalho físico intenso.

EFEITOS SOBRE A SAÚDE E NIVEIS DE GRAVIDADE DE EXPOSIÇÃO AO CALOR:

  • Nivel 1- eritema e dores, edema, vesiculas, febre e cefaleias.
  • Nivel 2- cãibras, espasmos dolorosos das pernas e abdómen, transpiração intensa, sincope de calor (perda de consciência súbita e breve, surgida após um longo período de imobilidade ou depois de um longo período de trabalho físico intenso).
  • Nivel 3- exaustão e desidratação (transpiração intensa, fadiga, cefaleias, náuseas e temperatura central de cerca de 40º)
  • Nivel 4- Insolação (temperatura corporal superior a 40,6º, alterações neurológicas, possível perda de consciência), possibilidade de morte devido a falência dos mecanismos de termorregulação.

INSOLAÇÃO, UMA URGÊNCIA VITAL
A insolação pode surgir em caso de exposição prolongada a temperaturas elevadas. A insolação é rara, mas potencialmente fatal.
Sinais de alerta da insolação
– Sintomas gerais
Hipertermia- temperatura corporal superior a 39º
Taquicardia
Respiração rápida
Dor de cabeça
Náuseas e vómitos
– Sintomas cutâneos
Pele seca, vermelha e quente
Ausência de transpiração
– Sintomas neuro-sensoriais
Confusão, comportamento estranho, delírio, convulsões
Eventual perda de consciência

Quando estes sinais de alerta surgem num trabalhador exposto ao calor, deve-se agir rapidamente. A ausência de alguns sinais não elimina o diagnóstico e não se deve retardar o pedido de auxílio do exterior (ligar 112).

Primeiros gestos de socorro em caso de insolação

Fadiga, dores de cabeça, sede intensa, cãibras, vertigens, pele seca, sonolência, confusão, temperatura corporal superior a 39º… trata-se de uma urgência vital, deve-se imperativamente chamar o 112!

Se a vítima está consciente:
– trazê-la para um lugar à sombra, bem arejado e se possível com ventoinha
– retirar o vestuário da vítima
– refrescá-la com água fresca, se possível aplicar gelo nas axilas e no pescoço
– dar água fresca a beber, em pequenas quantidades
Se a vítima estiver inconsciente: colocá-la em posição lateral de segurança e vigiá-la até à chegada de assistência médica.

RISCOS DE ACIDENTE DE TRABALHO
Uma ferramenta que escorrega das mãos transpiradas, a transpiração que incomoda a visão…O calor pode dar origem a alterações funcionais e gerar riscos para a segurança.
Quando existe exposição ao calor, existem efeitos psicológicos e cognitivos que se podem observar, como seja o aumento do tempo de reação, erros ou omissões. É sempre mais difícil de realizar uma tarefa que exija precisão ou esforço físico importante num ambiente com muito calor, o que aumenta o risco de acidente de trabalho no trabalhador.

Prevenir-se da exposição ao calor intenso é prevenir acidentes de trabalho!

Maria João Manzano
Diretora de Medicina do Trabalho