Adaptação ao Trabalho Noturno
Nos países industrializados, estima-se que cerca de 20% dos trabalhadores, trabalham por turnos incluindo o noturno.
Considera-se trabalho noturno, para efeitos de potenciais efeitos adversos para a saúde, trabalhar pelo menos três horas no período entre as zero e as cinco horas.
O trabalho noturno pode dar origem a perturbações do relógio biológico e dos ritmos circadianos (temperatura do corpo, frequência cardíaca, pressão arterial, secreção hormonal, metabolismo, turnover celular, estado de alerta, etc.), dando origem à disrupção destes, tornando-se desta forma, num risco para algumas patologias. Os trabalhadores devem estar informados e orientados para prevenir as disrupções dos ritmos circadianos e circanuais (duração da luz solar, temperatura ambiente, migração das aves, hibernação, necessidade de horas de sono e atividade reprodutiva).
O corpo pineal (parte do diencéfalo que segrega a hormona do sono – melatonina) tem um papel importante na formação dos ritmos circadianos e circanuais. Todos os órgãos periféricos têm uma autorregulação circadiana dirigida pelos relógios biológicos (slave clocks) que ditam ritmos diários de 24 horas. Os ritmos dos órgãos periféricos são coordenados pelo núcleo supraquiasmático do hipotálamo, o chamado master- clock.
O funcionamento coordenado do dia e da noite, nos diferentes locais da terra segundo o biótipo, é assegurado pelos fotorreceptores não visuais, principalmente os do corpo pineal e da retina.
A secreção da melatonina pineal é inibida pela luz, ou seja, de noite e no inverno apresenta níveis mais elevados. A melatonina tem ação na regulação do ritmo circadiano, influencia diretamente o funcionamento do sistema hormonal através da ação antigonadotrópica, com aumento dos estrogénios, e mantém no sistema imunitário o equilíbrio da atividade celular das citoquinas Th1 e Th2.
A iluminação artificial noturna inibe a secreção da melatonina e pode dar origem a alterações do sono/vigília e risco de acidentes ligados ao trabalho por turnos.
Em 2007 a IARC (International Agency for Research on Cancer) classificou o trabalho noturno como potencial cancerígeno para o cancro da mama nas mulheres (Grupo 2 A).
Podem vir a ocorrer, outras potenciais alterações associadas ao trabalho noturno, como sejam as cardiovasculares (hipertensão), nutricionais (obesidade) e metabólicas (alteração do padrão lipídico no sangue).
É importante que os trabalhadores estejam formados / informados sobre a forma de prevenir as possíveis alterações da exposição à luz artificial noturna:
1- Os turnos de trabalho devem rodar o mais rapidamente possível. Preferencialmente rodando no sentido manhã > tarde > noite, seguido de folgas.
2- Ter uma boa higiene do sono. Dormir entre 7 a 9 horas diárias. Quando sai de turno noturno, colocar óculos escuros e ir dormir, para casa. Dormir num quarto às escuras e sem ruído.
Fonte: Drª Mª João Manzano