Comportamentos e dependências online, em contexto laboral
A utilização de internet tem-se difundido rapidamente nos últimos anos e vindo a modificar, consideravelmente, a forma como comunicamos, acedemos à informação, interagimos com os outros e até os nossos estilos de vida diários. Os inúmeros benefícios da sua rápida expansão a nível global são inquestionáveis, contudo e de um ponto de vista individual, quando o seu uso se realiza de forma continuada e interfere com a nossa saúde e as nossas responsabilidades pessoais e colectivas, poderá tornar-se significativamente prejudicial.
Nem sempre é fácil identificarmos que podemos ter uma possível dependência em “estar Online”, uma vez que a utilização recorrente da internet já se encontra enraizada na nossa comunidade e maximizada pelo acesso permanente a dispositivos móveis, podendo ser facilmente confundida com um hábito ou um comportamento dito normal. Assim, o uso problemático de internet é definido pela ciência psicológica como o “envolvimento em actividades através da internet de forma persistente, intensa e sem controlo, resultando na redução dos interesses e com consequências emocionais, sociais e ocupacionais”.
Os efeitos negativos da utilização problemática da internet mais comuns são as dificuldades na regulação do sono, a diminuição da noção do tempo, o aumento do risco de aparecimento de lesões músculo-esqueléticas, a maior tendência para o isolamento social, a maior permeabilidade ao distress psicológico e a interferência na realização das tarefas quotidianas de índole pessoal e sobretudo profissional.
Actualmente, muitas das funções de trabalho implicam que estejamos Online de forma continuada, o que poderá trazer consequências negativas no âmbito da nossa auto-eficácia e produtividade. Em regra, cabe ao empregador regulamentar a utilização da internet para fins lúdicos e pessoais por parte dos trabalhadores, de forma a evitar possíveis perdas de rendimento. Este processo deve – desde logo – ser efectuado ao nível global e nunca de forma individualizada. Reconhece-se, igualmente, que as empresas que publicitem condições da utilização de internet durante o período de actividade laboral, têm menores quebras ao nível da produtividade.
Em profissões específicas que implicam o cumprimento de normas de segurança específicas, como é o caso do sector dos transportes, é importante realçar que o acesso constante a dispositivos móveis conduz a perda de informação importante relativa ao ambiente de condução (maiores tempos de reacção e diminuição do campo de visão), bem como aumenta a probabilidade de erros na interpretação da informação recolhida e na execução de decisões. Nestes casos, é de capital importância, o estabelecimento de limitações específicas por parte da entidade empregadora.
Assim, a definição de políticas no contexto laboral tendentes à promoção da utilização da internet com consciência e conscienciosidade passam, numa fase inicial, pelo desenvolvimento de acções de sensibilização sobre Comportamentos Online e Dependências, a par da regulamentação da sua utilização por parte das organizações. Reconhece-se, igualmente, que a comunicação para a prevenção é um ponto de partida para que estejamos devidamente informados sobre boas práticas de utilização de internet no trabalho e que estratégias existem para facilitar a integração do seu uso na nossa rotina diária. Em contexto de monitorização de saúde no trabalho e vigilância médica periódica, aponta-se para a necessidade futura de realização de acompanhamentos individuais por equipa de saúde multidisciplinar, em caso de detecção de padrões de utilização da internet disfuncionais e com prejuízo laboral.
Fonte: Dr. Diogo Gonçalves, Psicólogo Clínico e da Saúde
Ecosaúde Portugal