O aparecimento de um conjunto de tecnologias de informação e comunicação a partir dos finais do século XX, conduziu a um processo progressivo de transformação do modo como, essencialmente, aprendemos, comunicamos e trabalhamos. A internet é uma das mais poderosas ferramentas dentro deste contexto, servindo como meio de troca e acesso a informações em escala global (“estar online”). Atualmente, existem 5,1 mil milhões de utilizadores regulares de internet no mundo, o que veio a modificar a forma como as pessoas interagem e se conectam, bem como os seus comportamentos, valores, atitudes e até o seu estilo de vida diário.

Contudo e apesar de todas as vantagens e benefícios que a internet representa para o contexto atual da vida humana, temos também assistido nos últimos anos à intensificação de problemas relacionados com a sua utilização, o que, consequentemente, conduz a repercussões negativas na saúde mental.

Estudos recentes referem, inclusive, que a realização de atividades online de forma intensa e persistente poderá conduzir a sintomas de privação, tal como acontece com as adições relacionadas com o uso de substâncias. Este fenómeno tem sido denominado de ciberdependência. A dificuldade em exercer controlo sobre os comportamentos ligados ao uso da internet, a par de presença de reações emocionais disfuncionais associadas aos mesmos, surgem como fatores de risco com significado relevante.

Assim e como possíveis consequências da utilização problemática da internet, destacam-se:

  • As dificuldades de conciliação da vida pessoal com a vida online;
  • Maiores índices de problemas escolares em crianças e adolescentes;
  • Maiores índices de problemas profissionais em adultos, designadamente a maior probabilidade de erros e acidentes em contexto laboral;
  • Sinistralidade rodoviária;
  • Aumento do risco de desenvolvimento de condições físicas (cansaço, fadiga ocular, dores de cabeça, má postura, lesões músculo-esqueléticas, obesidade, sedentarismo e enfraquecimento do sistema imunitário);
  • Aumento do risco de desenvolvimento de outros problemas de saúde mental (depressão, ansiedade e distúrbios de sono);
  • Exposição a outros fenómenos online problemáticos (cyberbullying, grooming, fake news, fear of missing out, sharenting, phubbing, etc.).

Entre as boas práticas de gestão dos comportamentos online, salienta-se a promoção da literacia sobre esta temática, a par da cidadania digital e da cibersegurança. Os serviços de segurança e saúde ocupacional em articulação com a psicologia clínica, podem assumir um papel relevante no desenvolvimento destas práticas, designadamente ao nível da percepção e enquadramento de riscos, promoção do equilíbrio entre as rotinas reais e virtuais e aumento dos níveis de literacia em saúde mental e bem-estar psicológico.

Diogo Gonçalves
(Psicólogo Clínico e da Saúde)