A radiação visível abrange a porção do espetro eletromagnético entre a radiação ultravioleta e a infravermelha (400-750nm).

O olho é o órgão alvo mais sensível. Os trabalhadores em risco são aqueles que estão expostos prolongadamente e repetidamente a fontes de luz intensa, luz solar, lâmpadas de alta intensidade, lasers, flashes, holofotes e arcos de soldadura. A retina pode ser um local de lesão, pois é mais sensível aos comprimentos de onda entre 440 a 550 nm(luz azul). A luz azul é responsável pela retinite solar (cegueira do eclipse) e pode contribuir para o envelhecimento da retina e para a degeneração macular senil, que poderá levar à deficiência no campo visual. Como a nossa lente ocular (cristalino) é capaz de filtrar comprimentos de onda entre 320-500nm, protege a retina. No entanto em pessoas com afaquia (ausência do cristalino), são mais suscetíveis à lesão da retina, deverão ser aconselhados a não olhar contra o sol do meio-dia ou outras fontes de luz intensas e usarem óculos de sol quando trabalham em ambientes radiantes.

Queimaduras rápidas de luz de alta intensidade podem levar à cegueira do flash, na qual a perda visual temporária e a pós-imagem resultam do descoramento dos pigmentos visuais. Quanto maior for a intensidade da luz e a duração da exposição, a pós-imagem persiste por mais tempo. Em caso de exposição ligeira a moderada, os sintomas de cegueira de flash desaparecem rapidamente.

A iluminação insuficiente ou a luz refletida (brilho) podem causar astenopia (fadiga ocular), fadiga visual, dor de cabeça e irritação ocular. Em pessoas com mais de 40 anos estas queixas podem ser mais frequentes. Os sintomas são transitórios e não levam à lesão ocular.

O contraste de fontes de luz ambiental com as áreas de menor intensidade originou queixas de astenopia associada ao uso de computadores. Para reduzir a fadiga visual decorrente da exposição a écrans de visualização, devem-se reduzir as luzes ambientais, usar filtros anti brilho e ajustar o contraste dos caracteres no ecrã.

A prevenção nos trabalhadores em risco incluem avaliações prévias à exposição em indivíduos com afaquia ou com história de sensibilidade à luz, avaliação periódica para detetar alterações na acuidade visual ou sinais precoces de lesão ocular, uso de óculos de proteção ou protetores de face nos soldadores, iluminação correta do local de trabalho para redução do brilho e uso de filtros nas fontes de luz intensa para eliminar os comprimentos de onda da luz azul.

A radiação ultravioleta (UV) abrange os comprimentos de onda entre os 100 e os 400 nm. Como a radiação UV é pouco penetrante, os únicos órgãos afetados por ela são os olhos e a pele.
Os comprimentos de onda inferiores a 200 nm são absorvidos no ar, não causando efeitos sobre a saúde. Os comprimentos de onda entre 200 e 290 nm são absorvidos primariamente no estrato córneo da pele e na córnea do olho, enquanto os comprimentos de onda mais longos podem afetar a camada mais profunda da pele, a derme, o cristalino, a íris ou até a retina. A lesão ocular é causada mais comumente por reações térmicas (coagulação das proteínas, necrose dos tecidos) e as da pele por reações fotoquímicas. Os efeitos da exposição crónica incluem envelhecimento acelerado da pele, perda de elasticidade, hiperpigmentação, surgimento de rugas e telangiectasias.

As lesões por UVs ocorrem em profissões com exposição a luz solar natural, agricultores, pedreiros, operadores portuários, pescadores, trabalhadores de ferrovias e rodovias; em profissões de soldadura de arco/corte e maçarico, como sejam os soldadores e trabalhadores de manutenção. No entanto, o maior risco de lesões são as que expõem os trabalhadores à luz solar natural durante o período de pico da disseminação de energia UV, entre as 10 horas da manhã e as 16h da tarde. Os reflexos da radiação UV na água, na neve ou em superfícies adjacentes podem aumentar a intensidade da exposição.

A exposição a comprimentos de onda inferiores a 315nm (especialmente a 270 nm, ao qual o olho é mais sensível) pode causar foto ceratoconjuntivite. Os sintomas aparecem 6 a 12 horas após a exposição e incluem dor severa, fotofobia, sensação de corpo estranho ou areia nos olhos e lacrimejamento. Após um período de latência surge a conjuntivite, eritema e edema das pálpebras e face e lacrimejo. O tratamento é sintomático, colocação de bolsas de gelo, analgésicos sistémicos, compressas oculares e sedação ligeira.

O surgimento de catarata devido à exposição à radiação UV é possível e no caso de o trabalhador não ter cristalino, pode também dar origem a lesão da íris e da retina.
O eritema da pele /queimadura do sol) é o efeito agudo mais comum da exposição a UVs.

Reações agudas de fotossensibilidade também podem surgir: foto tóxicas (não alérgicas) e foto alérgicas. As reações foto tóxicas são muito mais comuns e surgem frequentemente em associação ao uso de medicamentos (tetraciclinas, sulfonamidas, tiazidas, preparações contendo alcatrão de carvão).

A exposição à radiação ultravioleta pode por fim dar origem a lesões pré-malignas e malignas. As lesões pré-malignas são a ceratose actínica (precursora do carcinoma espinocelular), o ceratoacantoma e a melanose de Hutchinson. As três lesões malignas ligadas à exposição aos UVs são o basalioma (o mais comum), o carcinoma espinocelular e o melanoma maligno. Estas são as lesões que queremos sobretudo primariamente prevenir. Os trabalhadores que trabalham em ambientes externos devem usar filtros solares( através de utilização de fator de proteção solar [FPS]30 e roupas protetoras que cobram todo o corpo, uso de chapéu. Os soldadores devem estar instruídos a usarem óculos de proteção e escudos faciais.

Maria João Manzano, MD, PhD

Diretora Clínica da Ecosaúde