Como parte da resposta ao contexto pandémico à COVID-19, as organizações adotaram o regime de teletrabalho que consiste, essencialmente, na prestação laboral fora do local de trabalho com recurso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

Enquanto que para determinados trabalhadores esta solução conduziu a uma maior facilidade na conjugação da esfera pessoal e profissional (certos aspetos relativos ao autocuidado e tarefas da vida pessoal/familiar ficam facilitados em teletrabalho), melhor gestão de tempo (por exemplo, suprimiu-se a necessidade diária de deslocação para o emprego) e maiores índices de rendimento (estudos recentes comprovam que o nosso rendimento poderá ser superior em contexto de teletrabalho), por outro lado, esta nova forma de trabalho acarreta desafios e exigências do ponto de vista psicológico que conduzem, inevitavelmente, a várias necessidades de adaptação.

Neste sentido, alguns fatores de risco para a saúde mental em contexto de teletrabalho, devem ser tomados em conta:

  • Inflexibilidade por parte do empregador (cultura de trabalho menos aberta à comunicação e de pouca proximidade entre colaboradores);
  • Sobrecarga de trabalho (quer doméstico ou profissional – principalmente no caso das mulheres);
  • Presentismo (trabalhar mais horas que o habitual, muitas vezes para garantir a segurança económica);
  • Desequilíbrio na integração dos domínios pessoal e profissional (dificuldades no estabelecimento de fronteiras entre trabalho e vida pessoal/familiar).

Por outro lado, enumeram-se algumas estratégias vistas como essenciais na promoção do bem-estar e da saúde mental dos teletrabalhadores, conforme as diretrizes da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP):

  • No âmbito das organizações/gestores/chefias: Promoção de uma cultura de equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional; Flexibilização de horários; Garantir o cumprimento de períodos de descanso; Auscultar os trabalhadores sobre dificuldades sentidas e sobre a sua experiência de teletrabalho; Acompanhamento do desenvolvimento profissional, etc.
  • No âmbito dos profissionais/trabalhadores: Planeamento do dia de trabalho com integração de momentos de autocuidado e de tempo pessoal; Realização de listas de tarefas semanais; Evitar acesso ao e-mail, atender telefonemas e agendar reuniões fora do horário de trabalho; Comunicação de necessidades ao empregador; Manter contato e as boas relações com os colegas mesmo à distância; Estabelecer limites na utilização das TIC, etc.

O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional já assumia um papel de relevância antes da pandemia e, na fase atual em que a maior parte dos portugueses se encontra em teletrabalho, assume-se como condição indispensável para a saúde mental. Cabe a cada um de nós e à própria sociedade, promover a elaboração de políticas de integração entre estas duas vertentes de vida no contexto atual, com o objetivo de manter a qualidade de vida e a saúde mental dos trabalhadores, a produtividade e a competividade das organizações, a coesão social e a recuperação económica do país.

Diogo Gonçalves
(Psicólogo Clínico e da Saúde, Ecosaude Portugal)