O ambiente térmico nos locais e postos de trabalho deve corresponder a condições, adequadas às capacidades do próprio organismo para, através da termorregulação, estabelecer o equilíbrio entre ganhos e perdas de calor. Condições adversas poderão condicionar fortemente a realização de determinadas tarefas.

Algumas atividades predominantemente realizadas ao ar livre, como sejam a operação portuária, a construção civil, a manutenção e construção naval, os transportes marítimos, ferroviários ou terrestres, a pesca, a agricultura, a silvicultura a agropecuária, a vigilância de praias, o patrulhamento policial, entre muitas outras, determinam a exposição dos trabalhadores a condições atmosféricas muito desfavoráveis. O frio, a chuva, o calor, a radiação solar e o vento, constituem fatores de risco a ter em linha de conta nas avaliações de risco laboral.

Exposição a temperaturas elevadas
Estamos na fase final da Primavera. O ar seco e quente anuncia um Verão com temperaturas muito elevadas e índices de radiação ultravioleta preocupantes.
A carga térmica a que os trabalhadores estão sujeitos, depende das condições ambientais, do tipo e intensidade da atividade desenvolvida e das características do vestuário envergado.
O ambiente térmico no exterior é determinado pela temperatura, humidade e velocidade do ar, bem como pelo calor radiante. Vários organismos internacionais de referência recomendam a sua quantificação através do cálculo do índice WBGT (Wet Bulb Globe Temperature), o qual pondera a temperatura de globo, a temperatura húmida natural e a temperatura radiante média, expressando o valor em ºC (graus Celsius). A ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) indica como limites de WBGT em descanso, 33ºC para trabalhadores aclimatados e 32ºC, para não aclimatados.
Tarefas mais duras do ponto de vista do esforço físico exigem maior dispêndio de energia e, em consequência, atividade metabólica mais intensa. Por exemplo, na realização de trabalhos pesados, o metabolismo energético médio está estimado em 350 W/m2, contra 80 W/m2, nas tarefas em que apenas se movimentam de forma ligeira os braços e o tronco.

O vestuário confere isolamento térmico entre o meio e o trabalhador, sendo a maior ou menor resistência às trocas de calor por condução, convecção ou evapotranspiração, determinada pelo tipo, quantidade e especificação das peças de vestuário envergadas, bem como pela extensão da área do corpo coberta. Alguns EPIs poderão também contribuir para a sensação de desconforto térmico.


Efeitos da exposição a temperaturas elevadas

Decorrente da exposição a calor intenso, verifica-se o aumento das temperaturas central e superficial do corpo, perda de água e de sal. O ciclo de estímulo, resposta e efeitos, provoca perdas de eficiência, irritabilidade, cansaço e sede. Note-se que uma perda de água superior a 5% do peso corpo humano leva ao entorpecimento e cria condições propícias para erros e acidentes. Perdas superiores a 15% poderão levar à morte. A perda de sal, eliminado através do suor e da urina, provoca aumento da frequência cardíaca, irritabilidade, náuseas, vómitos, falta de forças e ausência de sensação de sede. O insucesso da termorregulação poderá permitir que a temperatura central interior ultrapasse os 42ºC, conduzindo ao golpe de calor.

Medidas técnicas de controlo

Não sendo possível evitar ou adiar a exposição dos trabalhadores às condições desfavoráveis, deverão ser consideradas as seguintes medidas de controlo:

  • Implementar soluções técnicas que permitam reduzir o esforço físico, por exemplo, por recurso a meios de mecânicos de elevação ou movimentação de cargas;
  • Colocação de proteções contra a exposição direta aos raios solares, constituída por painéis, rede sombra, tendas ou outras análogas, orientáveis de acordo com o movimento aparente do Sol;
  • Criar zonas de trabalho cobertas por sistemas de rega ou água nebulizada, na busca da redução do WBGT no local de trabalho.
Medidas organizacionais de controlo
  • Promover a aclimatação dos trabalhadores às temperaturas elevadas e à exposição solar;
  • Evitar a exposição de trabalhadores com problemas de excesso de peso ou problemas respiratórios;
  • Promover pausas para descanso em ambiente fresco, com WBGT inferior ao do local de trabalho;
  • Em função do WBGT do local de trabalho, do WBGT do local de descanso e do metabolismo estimado para as tarefas a realizar, as pausas deverão ser pré calculadas em fração de hora de trabalho.
  • Prever a extensão temporal dos trabalhos ou o reforço dos recursos, no sentido de acomodar os tempos de pausa.

 

Outras medidas de prevenção e controlo
  • Disponibilizar água tépida ou fria;
  • Fornecer refeições ligeiras, várias vezes ao dia, ricas em sais minerais;
  • Evitar a ingestão de gorduras e eliminar as bebidas alcoólicas;
  • Ingerir sopas frias ou tépidas, saladas, grelhados, comidas com pouca gordura e pouco condimentadas, acompanhadas com água;
  • Substituir os doces por fruta;
  • Reduzir o consumo de cafeína;
  • Evitar a exposição à radiação solar direta;
  • Usar roupas leves de cores claras, de boa respirabilidade e que cubram todo o corpo.
  • Proteger a cabeça com um chapéu ou boné;
  • Usar óculos de sol com proteção contra UV
  • Usar um creme de proteção contra a radiação solar (UV), de fator superior a 30. Reforçar a higiene pessoal.
  • Ainda que sem a sensação de sede, beber água a intervalos regulares.

 

Mário A. Miranda Silva,
Mestre em Gestão de Prevenção de Riscos Laborais
TSST Ecosaúde, S.A. 

Bibliografia consultada
ACGIH. (2016). TLVs e BEIs. São Paulo: Tradução ABHO.
Nunes, F. M. (2010 – 3ª Edição). Segurança e Higiene do Trabalho. Amadora, Lisboa, Portugal: Edições Gustave Eiffel.