É difícil estabelecer uma barreira que limite como causa ou consequência o uso de drogas em meio laboral. Sejam elas drogas lícitas ou ilícitas.

A questão não é nova, no entanto, não tem merecido a importância devida, seja por trabalhadores ou empregadores. Os riscos psicossociais, onde se incluiu o stress, estão na atualidade no que diz respeito a riscos associados ao meio laboral. Moda ou não, o stress faz parte do nosso quotidiano e a sua gestão nem sempre é conseguida.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), descreve o stress, ou as alterações psicológicas e físicas que lhe estão associadas como sendo a “epidemia do seculo XXI”. Fazendo jus à definição do Dicionário da Porto Editora (2016) o stress pode ser classificado como o “conjunto de perturbações psíquicas e fisiológicas, provocadas por agentes diversos, que prejudicam ou impedem, a realização normal do trabalho”.
Inúmeros estudos, entre eles, um relatório publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), revela os custos para os trabalhadores associados a um sem número de doenças, sendo que para as empresas os “números são demasiados onerosos, deixando as entidades patronais completamente stressadas”.

Segundo o mesmo relatório da OIT, nas décadas mais recentes, a globalização e progresso tecnológico, transformaram, significativamente o mundo laboral.

Perante este problema real e irrefutável, será lícito perceber se por causa do stress laboral os trabalhadores são empurrados para a malha das substâncias psicoativas ou se, porventura, para gerirem o stress laboral consomem tais substâncias. A resposta, será no mínimo, complexa, podendo afirmar-se que ambas as situações são verdadeiras.

É sabido que o álcool, e em menor escala o consumo de drogas, tem consequências desastrosas no meio laboral, traduzindo-se em absentismo, conflitos laborais, processos disciplinares e em larga escala, em roturas familiares e sociais. Entre as cinco substâncias que, maior preocupação causa, estão o álcool, “cannabis”, cocaína, opiáceos e drogas de prescrição.

Sobre estas últimas substâncias recaem os principais dilemas e alarmes. O trabalhador recorre ao seu médico de família ou psiquiatra no sentido de o medicar, numa altura em que não consegue gerir o stress laboral. Contudo, o trabalhador, que consume tranquilizantes ou antidepressivos, por receio ou inadvertidamente, não pede para ser avaliado pelo Serviço de Saúde Ocupacional, mantendo-se se no ativo. Em causa, para além das consequências já evocadas, podemos estar perante acidentes de trabalho que, em determinadas profissões como sejam os transportes públicos, podem trazer consequências nefastas para comunidade.

Não deixa de ser curioso que, ao contrário da imagem pública que temos, a maioria dos toxicodependentes não está na rua. Um estudo feito por Orlindo Pereira Gouveia, professor doutorado da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, revela que a “maior parte das pessoas que usam droga e álcool estão empregadas”.

Na verdade, identificar o consumo de substâncias psicoativas em meio laboral e relacionar com a gestão do stress deve ser um dos objetivos da Saúde Ocupacional, prevenindo assim, tanto a saúde do trabalhador como a da entidade empregadora. O trabalhador, deve assumir com responsabilidade quando precisa de ajuda, psicológica e/ou farmacológica, envolvendo a equipa pluridisciplinar no seu acompanhamento. Tratando-se de drogas ilícitas, a prevenção deve começar por criar uma cultura de segurança, pouco desenvolvida ainda, elaborando regulamentos que permitam precocemente despistar uma dependência.

A gestão do stress com drogas ou a gestão drogas para gerir o stress, têm de ser acompanhadas por profissionais com formação adequada, com estratégias bem definidas, colmatando simultaneamente as perturbações psíquicas causadas pelo stress e as causadas pelo consumo de substâncias psicoativas. É possível este equilíbrio desde que haja um diagnóstico precoce, consciente deste tipo de riscos laborais.

A. Miguel Santos
Licenciado em Enfermagem, Enfermeiro do Trabalho, Mestrado em Engenharia Humana, Formador nas áreas da Saúde, Higiene e Segurança no Trabalho.

Referências Bibliográficas:
“Relatório Mundial da Saúde: Saúde mental: nova conceção, nova esperança”, Direção Geral da Saúde, 2002/OMS;
“A Prevenção das Doenças Profissionais” – Dia Mundial da segurança e saúde no trabalho 28 abril 2013, Organização Internacional do Trabalho, 2013/OIT;
Gouveia, Orlindo Pereira, “Projeto Álcool e Drogas no Local de Trabalho: Atitudes, representações sociais e estratégias 2003-2004”, da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa.